Reunião Anual das Juventudes Comunistas da Europa

Discutir os ataques aos direitos <br>para melhor resistir

Inês Zuber e Ana Pato representaram a JCP na 5.ª Reunião Anual das Juventudes Comunistas da Europa, que se realizou em Praga. Em entrevista ao Avante!, as dirigentes falam sobre a iniciativa e a situação da União da Juventude Comunista da República Checa.

«Os ataques às liberdades não é um problema apenas dos comunistas»

A 5.ª Reunião Anual das Juventudes Comunistas da Europa realizou-se em Praga, na República Checa, de 27 a 29 de Outubro, com a participação de organizações da Alemanha, Áustria, Bélgica, Grã-Bretanha, Chipre, Espanha, Grécia, Holanda, Itália, Noruega, Polónia, Rússia, República Checa e Suécia, bem como da Federação Mundial da Juventude Democrática. A JCP foi representada por Inês Zuber e Ana Pato.
«Foi uma reunião muito produtiva do ponto de vista de um dos objectivos deste tipo de reuniões, ou seja, o encontro de organizações de juventudes comunistas europeias. É um espaço de partilha de experiências e opiniões, que deve ser utilizado no reforço das organizações nos seus países e no encorajamento da sua actividade», afirma Inês Zuber.
A iniciativa permitiu uma discussão bastante profunda em torno dos ataques aos direitos sociais e democráticos em diversos países. Como diz Ana Pato, «cada país tem as suas especificidades, mas encontramos ataques muito semelhantes. O ataque à educação pública e gratuita é generalizado, embora em diferentes níveis. Nos países da Europa de Leste observa-se a recuperação capitalista, partindo de uma situação em que havia educação para todos e agora se destrói o sistema público. Na União Europeia, fala-se mais no pagamento de propinas, da ingerência directa por parte do poder económico privado, mas também dos ataques à segurança social e aos sistemas de saúde.»

Combater o anticomunismo

Do ponto de vista do anticomunismo, os ataques aos direitos democráticos e políticos são muito diversificados. «Em Portugal, temos atentados à liberdade de expressão e à propaganda política. No Leste da Europa, há um ataque mais cerrado que se transmite através de uma doutrina quase de Estado, em que a condenação do comunismo e a sua equiparação ao nazismo é oficial e está presente nas matérias escolares, museus e monumentos», refere Inês Zuber, acrescentando que «a ofensiva é muito forte e o capitalismo tem meios mais poderosos do que a memória».
Esta dirigente da JCP considera que há situações piores do que a da União da Juventude Comunista da República Checa (KSM), recentemente ilegalizada. «Noutros países europeus, há organizações que nem sequer se podem chamar comunistas ou utilizar símbolos comunistas porque são simplesmente proibidos. É o caso da Roménia e da Hungria. Mas este não é um problema apenas da Europa. Há outros países em que a repressão é muito forte, como na Colômbia, onde os comunistas e os sindicalistas são presos e assassinados e toda a gente faz de conta que não se passa nada», salienta.
O que assusta o sistema capitalista é a capacidade de atracção das organizações, do ideal, do projecto e da acção dos comunista.«Para o capitalismo, isto é inadmissível, por isso toma estas medidas», refere Inês Zuber. «Mas este não é um problema só de comunistas, porque é um ataque muito mais abrangente à liberdade de expressão e democrática mais básicas. Não podem ser só os comunistas a lutar contra isto, tem de ser camadas mais abrangentes», sublinha. «A afirmação e a luta em cada país é o melhor contributo no combate ao anticomunismo », acrescenta Ana Pato.
A Federação Mundial da Juventude Democrática está a desenvolver uma campanha internacional pelas liberdades e pelos direitos democráticos e civis há cerca de um ano. «A FMJD não é uma organização comunista. Inclui comunistas, mas também muitas outras organizações democráticas e anti-imperialistas, o que significa que constitui o espaço privilegiado para uma campanha destas», considera Inês Zuber.

Sem desistir

A maioria dos jovens comunistas europeus assistiu apenas a retrocessos políticos e sociais, mas nem por isso se sentem desmotivados para lutar. Como explica Ana Pato, «é preciso ter uma visão enquadrada do contexto e uma perspectiva histórica sobre aquilo que vivemos. Se só olharmos para o momento concreto em que estamos, vemos um grande avanço das forças capitalistas. Mas também existe uma grande resistência dos povos a estas políticas. Isso dá ânimo e surge como prova de que é possível resistir.»
A dirigente da JCP refere ainda que «a existência de países que inscrevem a construção do socialismo nos seus objectivos e os avanços progressistas na América Latina contribuem igualmente para este enquadramento históricos». E não esquece também que «a nossa base teórica e o desenvolvimento da realidade permite-nos ter a perspectiva de que as coisas vão mudar e que o avanço das forças progressistas e revolucionárias é necessário e possível».

Contactos internacionais reforçam a JCP

A JCP sente-se reforçada com as reuniões das juventudes comunistas europeias pelo conhecimento dos outros países que adquire. «Dá-nos uma maior amplitude e profundidade na análise da situação na Europa. Ao mesmo tempo, verificamos que não estamos sozinhos nesta luta», declara Ana Pato. «Saber que enfrentamos o mesmo inimigo dá-nos mais força e empenho na luta em Portugal. Quando sabemos de uma vitória noutro país sentimos a nossa luta reforçada», explica.
O mesmo acontece com as outras organizações em relação à JCP, que «é bastante prestigiada e reconhecida do ponto de vista internacional, pela sua actividade internacional mas sobretudo nacional», como diz Inês Zuber. Os jovens comunistas portugueses vão dando notícia às outras organizações das actividades que promovem, das lutas que se desenvolvem em Portugal e dos ataques que aqui se verificam.



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